Oi gente, tudo bem?
Sim, já virou um clichê começar essa newsletter pedindo desculpas pelo sumiço. Não é proposital, juro. Esse fim de semestre comeu meu cu sem pena. Tive que fazer um curta e como sou uma pessoa zero interada de cinema, fui aprendendo na marra e pelo menos o resultado ficou interessante, mas foi bem cansativo. Além disso, me dediquei integralmente à faculdade, então… Pelo menos essa entrega me rendeu um estágio que devo começar em breve, então tudo certo hehe.
Chega de falar da minha vida e simbora pros livros.
Nesse período que fiquei ausente, saíram dois vídeos no canal:
Os superstars da cadeia, que amei.
Do polêmico Eu vou, tu vais, ele vai.
E do maravilhoso Tese sobre uma domesticação.
Assistam e depois me digam.
Na nossa última conversa, terminei falando que tinha começado a ler o Big Loura. Gente, que livro babado. A Dorothy Parker poderia muito bem ser minha bisavó literária. O humor dela é divino, os diálogos excelentes e os contos são divertidos, tristes e sexys ao mesmo tempo. Não sei bem quando o vídeo vai sair, mas será em breve, prometo. Meu único pedido é que vocês conheçam o trabalho da Dorothy. Jesus, por que tem certas pessoas que demoram tanto tempo para ganhar reedições. Graças a Cia das Letras, novos leitores como eu podem ter acesso a essa joia americana.
Em seguida, li o Cometerra, da argentina Dolores Reys. Esse é um livro que já tava pra ler tem tempo, mas por algum motivo sempre adiava. Eu adorei, achei a história interessante. Costumo falar que tem certos tipos de narrativas que só alguém nascido na América Latina pode fazer e essa é uma delas. Imagina a situação, você comer terra e vislumbrar o que se passou ali? É bem interessante. Gostei de tudo, a trama é redonda e os personagens são vívidos. Fica a dica pra quem quer se embrenhar na literatura latino-americana contemporânea. A leitura é rapidinha também, então não tem desculpa pra postergar como eu fiz. Leiam e depois me digam.
Já que tamos falando de literatura latino-americana e, em especial, argentina, acabei lendo O Ruído de Uma Época, livro de ensaios da iconoclasta Ariana Harwicz. Vocês provavelmente já devem ter esbarrado com alguma obra dela por aí. Ela é autora do Morra, Amor, que fez um relativo sucesso aqui no Brasil nos idos de 2020. A Ariana é o tipo de escritora meio ame ou odeie; particularmente eu amo. A sua obra mais famosa é considerada uma trilogia que inclui o Morra, Amor e é seguido por A Débil Mental e Precoce, todos os seus livros já estão publicados no Brasil pela editora Instante (que inclusive tem um catálogo mara). O seu texto não é dos mais fáceis, mas depois que você pega a manha e entra na loucura dos personagens, a coisa flui que é uma beleza. Tudo que li dela, adorei. É fora da curva e bota as convenções literárias pro beleléu. O bom de ter lido O Ruído de Uma Época é justamente descobrir como a cabeça da Ariana funciona e de como ela vê a literatura contemporânea, o que ajuda bastante a decifrar o conjunto de sua obra. Eu amo que ela é pé na porta e não faz questão das concessões. É um livro que muitos podem achar até ofensivo, mas é justamente porque ela toca na ferida e escancara como as coisas andam no meio literário (vide o comentário que fiz no último post sobre o Eu vou, tu vais, ele vai). Não gravei vídeo sobre ele por motivos de acreditar que a leitura do livro por si só já basta. Leiam, por favor.
Ainda na onda de autoras argentinas, acabei lendo o Garotas Mortas para a faculdade. Esse livro já saiu tem um tempinho, mas nunca tinha dado muita bola até ler o maravilhoso O Vento que Arrasa que também foi escrito pela Selva Almada. Jesus amado, o Garotas é curtinho, mas tem uma densidade que é impressionante. Nem digo de leitura lenta, arrastada e tals, mas sim por conta do tema. É muito doloroso. A maneira como a Selva faz essa reportagem sobre feminicídio é de partir o coração. A leitura é fluída, porém, é tocante e, em diversos momentos, precisei parar pra ter um respiro e refletir. Recomendo fortemente.
Após ter sido nocauteado pela Selva, decidi pegar meu Rosa Montero do ano. Sim, autores que gosto muito eu tendo (e tento) ler só um livro por ano. O da vez foi Te Tratarei Como Uma Rainha. Já tinha ele aqui tem tempo e era o único que ainda não tinha lido. Assim, não é o melhor dela, é cheio de falhas, mas puta que pariu, como a Rosa tem um carisma gigantesco na escrita. Juro pra vocês, toda vez que pego algo dela, é uma espécie de reencontro com uma amiga muito querida. Mesmo a trama tendo furos, coisas que não são explicadas, etc, os personagens são muitoooooo carismáticos e isso já vale a leitura. Sou suspeito pra falar porque realmente amo tudo da Rosa. Com certeza uma das minhas autoras favoritas. E, ah, a quem possa interessar, esse livro me lembrou muito o Veludo Azul, só que numa versão comédia. Infelizmente, o Te Tratarei Como Uma Rainha tá esgotado, mas dá pra encontrar facilmente em sebos, sendo vendidos por terceiros na Amazon e, claro, na Estante Virtual!
Pra finalizar a semana, li numa talagada o Melhor Não Contar, novo romance da Tatiana Salem Levy. Meu único contato com a autora tinha sido o Vista Chinesa, uma história pesadíssima sobre abuso. Particularmente, não estava animado para esse novo, mas meu amigo Rafael leu e adorou, então segui a dica. Realmente, é um bom livro. Dos nacionais que li esse ano, talvez, seja o mais interessante. Gostei da mescla entre diário, ensaio e autoficção. Além disso, é uma leitura rápida, daquelas que você pisca e já acabou. Acredito que será bastante comentado nas próximas semanas. Apostaria que ela vai ser uma das convidadas pra FLIP. Vale a pena dar uma olhada.
Ufa, essas foram as leituras enquanto eu estava sumido. Feliz que todas foram boas, o que me dá um gás de continuar num bom ritmo. Nem sei se comento o que tô lendo agora porque nem comecei direito nada, tem alguns que dei uma espiadinha, mas não prometo continuar, rs. Provavelmente na nossa próxima conversa, falaremos sobre Um Romance Russo e Os Vulneráveis, porém ainda incerto hahaha.
Antes de acabar, queria deixar uma dica de filme, pois agora como bom estudante de Comunicação Social, tenho matérias de cinema. Não assisti para faculdade, mas uma colega na turma de Roteiro me indicou um filme bem lado B do Coppola que achei muito interessante. Se chama O Fundo do Coração. É um musical bem atípico e com uma produção faraônica (inclusive era um projeto tão pessoal do Coppola que ele colocou o próprio dinheiro e faliu. o hômi passou dez anos pra se recuperar do rombo.) Eu amei, visualmente é lindo. A história é bem qualquer coisa, mas vale a pena por todas as qualidades técnicas que são deslumbrantes. Além disso, é curtinho, então um ótimo programa pro domingo à noite. O único problema é que ele não tem disponível em streaming algum e nem on-demand, então é preciso recorrer ao torrent, mas nada muito fora do normal quando se fala de filmes antigos e não tão conhecidos do grande público.
Muito obrigado pela companhia, galera. Amo vocês. Obrigado por acreditarem em mim.